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A poesia de Paulo Leminski 

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Nascido em 24 de agosto de 1944, o escritor, crítico literário e tradutor, o curitibano Paulo Leminski foi um dos mais expressivos poetas de sua geração. Paulo Leminski foi um filho que sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade.

Influenciado pelos dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos deixou uma obra vasta que, passados 25 anos de sua morte, continua exercendo forte influência nas novas gerações de poetas brasileiros. Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados populares.

 

Seu livro “Metamorfose” foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Entre suas traduções estão obras de James Joyce, John Fante, Samuel Beckett e Yukio Mishima. Ademais, influenciou intensamente a MPB, a partir da gravação de poemas por Caetano Veloso (Verdura), Zélia Ducan (Dor elegante) e Arnaldo Antunes (Luzes), por exemplo. 

Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Além de escritor, Leminski também era faixa-preta de judô. Sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos.

Paulo Leminski morreu no dia 7 de junho de 1989, em consequência de uma cirrose hepática que o acompanhou por vários anos.

O que quer dizer

 

O que quer dizer, diz.

Não fica fazendo

o que, um dia, eu sempre fiz.

Não fica só querendo, querendo,

coisa que eu nunca quis.

O que quer dizer, diz.

Só se dizendo num outro

o que, um dia, se disse,

um dia, vai ser feliz.

*

um bom poema

leva anos

cinco jogando bola,

mais cinco estudando sânscrito,

seis carregando pedra,

nove namorando a vizinha,

sete levando porrada,

quatro andando sozinho,

três mudando de cidade,

dez trocando de assunto,

uma eternidade, eu e você,

caminhando junto

Dor elegante

um homem com uma dor

é muito mais elegante

caminha assim de lado

como se chegando atrasado

andasse mais adiante

carrega o peso da dor

como se portasse medalhas

uma coroa um milhão de dólares

ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos

não me toquem nessa dor

ela é tudo que me sobra

sofrer vai ser minha última obra

O assassino era o escriba

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.

Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular como um paradigma da 1a

conjugação.

Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre

achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto.

Casou com uma regência.

Foi infeliz.

Era possessivo como um pronome.

E ela era bitransitiva.

Tentou ir para os EUA.

Não deu.

Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.

A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conetivos e agentes da passiva,

o tempo todo.

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Bem no fundo

No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria

de ver nossos problemas

resolvidos por decreto

a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,

maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais

mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos saem todos passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas

Razão de ser

Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,

preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

e as estrelas lá no céu

lembram letras no papel,

quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?

poesia: 1970

Tudo o que eu faço

alguém em mim que eu desprezo

sempre acha o máximo.

Mal rabisco,

não dá mais pra mudar nada.

Já é um clássico.

Parada cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

*

eu tão isósceles
você ângulo
hipóteses
sobre o meu tesão

teses sínteses
antíteses
vê bem onde pises
pode ser meu coração

Verdura

de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que eu te vi
o dia em que me viste


de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana

Sem budismo

Poema que é bom

acaba zero a zero.

Acaba com.

Não como eu quero.

Começa sem.

Com, digamos, certo verso,

veneno de letra,

bolero. Ou menos.

Tira daqui, bota dali,

um lugar, não caminho.

Prossegue de si.

Seguro morreu de velho,

e sozinho.

 

*

o amor, esse sufoco,

agora há pouco era muito,

agora, apenas um sopro

ah, troço de louco,

corações trocando rosas,

e socos

Atraso Pontual

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

*

Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

Poesia

“words set to music” (Dantevia Pound),

“uma viagem ao desconhecido” (Maiakóvski),

“cernese medulas” (Ezra Pound),

“a fala do infalável” (Goethe),

“linguagem voltada para a sua própria materialidade” (Jakobson),
“permanente hesitação entre som e sentido” (Paul Valery),

“fundação do ser mediante a palavra” (Heidegger),
“a religião original da humanidade” (Novalis),

“as melhores palavras na melhor ordem” (Coleridge),

“emoção relembrada na tranquilidade” (Wordsworth),

“ciência e paixão” (Alfred de Vigny),

“se faz com palavras, não com ideias” (Mallarmé),
“música que se faz com ideias” (Ricardo Reis/Fernando Pessoa),

“um fingimento deveras” (Fernando Pessoa),

“criticismo of life” (Mathew Arnold),

“palavra-coisa” (Sartre),
“linguagem em estado de pureza selvagem” (Octavio Paz),

“poetry is to inspire” (Bob Dylan),

“design de linguagem” (Décio Pignatari),

“lo impossible hecho possible” (Garcia Lorca),

“aquilo que se perde na tradução (Robert Frost),

“a liberdade da minha linguagem” (Paulo Leminski)…

Paulo Leminski
Paulo Leminski
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Paulo Leminski
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